Portugal irá estar presente nos jogos paralímpicos de Tóquio 2020 com o número máximo de atletas, o que quer dizer que conseguiu garantir as vagas coletivas de pares BC3, pares BC4 e equipas BC1/BC2. Para os menos familiarizados com a modalidade e com o processo de apuramento paralímpico na modalidade de boccia, o apuramento é feito prioritariamente através dos pares e equipas sendo que há 10 vagas disponíveis para cada uma dessas divisões do jogo. De forma automática é apurado o par/equipa do país organizador e os campeões continentais de 2019 das diferentes regiões que no caso do boccia são 3: europa, ásia/oceania e américa/áfrica, ficando assim encontrados 4 países participantes. Os restantes 6 lugares são atribuídos aos 6 países não incluídos nos anteriores com melhor ranking mundial.
Uma vez que no campeonato da Europa de Sevilha 2019 Portugal não alcançou nenhum título europeu nas divisões de pares e equipas, o apuramento paralímpico passou a depender da sua posição no ranking mundial. De uma forma resumida, a pontuação para o ranking mundial tem em consideração as pontuações obtidas nas provas ao longo dos 2 anos anteriores à data atual. Para o apuramento paralímpico, o Comité Paralímpico Internacional estipulou que iria considerar o ranking do dia 31 de dezembro de 2019 e como tal, iriam contar as 4 melhores pontuações nas provas realizadas entre 1 janeiro de 2018 e a data estipulada.
Quanto aos pares/equipa de Portugal, o percurso até ao apuramento foi bastante diferente, e como tal faremos um pequeno resumo desse percurso para cada um deles.
PAR BC3
Ao longo destes 2 últimos anos de competição, o par BC3 teve um percurso algo inconsistente e com classificações globalmente inferiores ao que tinha vindo a apresentar ao longo dos últimos anos. Após algumas experiências na constituição do par surgiu uma alteração regulamentar por parte da BISFED relativa à obrigatoriedade da utilização de um jogador do sexo feminino em pelo menos um parcial do jogo e foi necessário reorganizar novamente o processo. Em 8 provas realizadas ao longo destes 2 anos, o par BC3 de Portugal apenas conseguiu ultrapassar a fase de grupos em 3 competições e algumas dúvidas em relação ao apuramento começaram a ser lançadas. Depois de um ano de 2018 sem qualquer medalha alcançada, o ano de 2019 teria de ser substancialmente melhor. Apesar de em duas das provas de 2019 não terem passado a fase de grupos (entre as quais o campeonato da Europa) e terem caído para o 15º lugar do ranking mundial, os pontos amealhados com a medalha de prata em Olbia deixaram ainda alguma esperança mantendo Portugal com margem pontual para conseguirem o apuramento. Sem margem de erro, entraram para o World Open da Póvoa de Varzim de 2019 apenas com uma possibilidade… ganhar a medalha de ouro! Nesta altura não era tempo para olhar para o passado recente e, jogo a jogo, Portugal foi fazendo a sua parte e mostrando que pode ganhar a qualquer adversário. Apesar de terem tido apenas uma derrota na fase de grupos, o par BC3 ficou dependente de um jogo entre adversários cujo desfecho acabou por garantir o acesso de Portugal às meias finais da prova. Certos do que queriam, Portugal apanhou o adversário perfeito nas meias finais uma vez que se defrontasse a Rússia na final, o apuramento já não seria possível. Num jogo muito seguro, Portugal seguiu para a final que acabou por vencer contra Hong Kong (nº 2 do ranking mundial) e dessa forma conseguiu o que muitos já davam como perdido. Para além de se voltar a ouvir o hino português numa prova de pares BC3, foram também garantidos os pontos suficientes para garantir a vaga para a competição mais importante de todas.
PAR BC4
O par BC4 teve também um percurso algo irregular, no entanto 4 medalhas em 8 provas ao longo destes 2 anos justificam mais do plenamente o seu apuramento paralímpico. Depois de uma boa entrada em 2018 com um 3º lugar no regional open de Madrid, o par BC4 não conseguiu passar a fase de grupos em mais nenhuma prova ao longo do ano, e como tal sabiam que 2019 seria importante para trocarem os pontos de 2017 que iriam sendo eliminados ao longo do ano. Apesar das ótimas prestações em 2019 tendo conseguido garantir medalhas nas 3 primeiras provas do ano: prata no World Open de Montreal, bronze no campeonato da Europa de Sevilha e bronze no regional open de Olbia, os pontos amealhados não foram os suficientes para garantir o apuramento paralímpico antes do World Open da Póvoa de Varzim, e como tal esta prova tinha um caracter importante uma vez que estariam presentes 4 dos 5 países ainda com hipóteses matemáticas de garantirem os 2 lugares de apuramento em disputa. Desde cedo a Croácia ficou afastada dessa luta e no grupo A o Canadá demonstrava uma grande consistência nos resultados. Quanto a Portugal, entrou muito forte a demonstrar uma grande vontade de resolver a situação do seu apuramento com 2 excelentes vitórias frente a Hong Kong e Tailândia, números 2 e 3 do ranking mundial. No entanto, uma derrota contra a Ucrânia fez com que o último jogo do grupo contra a Alemanha fosse uma final antecipada para o apuramento paralímpico uma vez que seria uma disputa direta entre estas duas seleções. No final, Portugal venceu de forma clara e colocou um ponto final na dúvida relativa ao apuramento, fechando o grupo de apurados com o Canadá que viria a ganhar a prova portuguesa. No World Open Portugal acabaria por terminar no 4º lugar da classificação final.
EQUIPA BC1/BC2
A equipa BC1/BC2, teve um percurso um pouco mais regular, tendo conseguido garantir matematicamente o apuramento paralímpico ainda antes do World Open da Póvoa de Varzim. Ao longo destes 2 anos, em 8 provas realizadas, Portugal passou a fase de grupos em 6 delas e a medalha de ouro no Regional Open de Olbia, o 4º lugar no World Open do Dubai e o 7º lugar no Campeonato do Mundo de Liverpool no ano de 2018, garantiram desde logo alguns pontos que mais tarde viriam a tornar-se decisivos. Em 2019, uma brilhante medalha de prata no campeonato da Europa e no Regional Open de Olbia, viriam a dar trocas de pontos positivas e permitir que Portugal garantisse bem cedo o apuramento e encarasse a última prova do ano com maior tranquilidade. Nesta última prova no ano, a equipa portuguesa não conseguiu ultrapassar a fase de grupos terminando no 5º lugar da classificação final, ainda assim o principal objetivo estava garantido.
Desta forma, Portugal irá estar presente nos jogos paralímpicos de Tóquio 2020 na máxima força e certamente que será uma seleção a ter em conta na luta pelas medalhas. Uma nota digna de ressalvar é o facto de que, numa altura em que o boccia apresenta uma grande expansão e um nível de competitividade crescente, entre os 16 países apurados para os jogos paralímpicos para as competições de pares e equipas, há apenas 5 nações que vão participar nas 3 divisões de pares e equipas e Portugal é uma delas! Para além de Portugal, também estarão na máxima forma o país anfitrião – Japão e ainda Brasil, Grã-Bretanha e Tailândia.
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